Friday, May 11, 2012

TV Out

Acho muito bem que se reivindique coisas laborais, mas este pessoal (salvo algumas excepções) não passa de parasitas e impulsionadores da pirataria. Quanto às transmissões da final da copa, a Record CV, as parabólicas das CM's, dos particulares e dos estabelecimentos comerciais transmitem. Chato será o clero stripteasar em frente à tv nas comemorações do 5 de Julho. Mas, eles lá acabam por se entenderem...

Tuesday, May 8, 2012

Era uma vez o movimento thugétnico

Meses atrás alguém (especialista em crónicas papo-furado transvestido em dissertações científicas) chamou-me pseudo-especialista em kasubudismo e tugharia. Uma honra achei na altura. Pois... finda a minha investigação de caricacá aos ditos new malfeitores urbanos e transformado as minhas descobertas via etnografia num artigo a ser publicado mês próximo numa revista de especialidade (que não é A Nação, o Expresso das Ilhas ou A Semana), declaro oficiosamente (que o oficial é com o reverendo) que não obstante os encontros de Estado do nosso premier com os temidos thugs da capital, a criação do ministério da mininada (aquele do não sei o quê do voluntariado) e as marchas da paz promovidas pela nossa quase invisível sociedade civil semi-partidária, o fenómeno thug morreu espontaneamente (a moda passou), tal como morreu espontaneamente outros fenómenos de associação juvenil delinquente do passado. Falo dos "piratinhas" nos anos 80 e os "netinhos da vovô" no início dos anos 90. É que a violência juvenil organizada em Cabo Verde é conjuntural. Aparece sempre ancorada às margens que o sistema deixa aos desafiliados. Cura-se sozinho sem precisar das operações ratoeiras de um tal mister Lívio. Agora é esperar o próximo fenómeno... porque as políticas da juventude continuam o mesmo... job for the boys of the party and for the family. Entre outras coisas...

(Na imagem: tatoos de um membro da gang latina MS-13)

My Playlist (24) Américo Brito

Ver ao vivo Xintado na Pracinha aqui. Mais aqui.

Monday, May 7, 2012

O regresso ao passado...


(Na imagem: ciganos romenos expulsos da França. Foto de autor desconhecido)

Black Angels

Já nos anos 80, os pioneiros na arte do breakdance (B-Boys) na Praia juntavam-se na Praça Alexandre Albuquerque do Plateau (Planalto de Esperança para Vieira Lopes) para freestyles de hip hop ao som do LL Cool J, Public Enemy, Ice Cube e os N.W.A, Afrika Bombaataa, entre outros... os grupos B-Boys começaram a surgir nos anos 90 na Cidade da Praia, sem esquecer que no Mindelo houve um grupo (que não recordo o nome) nascido no final dos anos 80, com enorme sucesso nacional.

Com o crescente interesse dos jovens praienses dos funcos (e não só) na cultura hip hop, vários grupos B-Boys têm surgido nos últimos anos. Black Angels é um desses grupos, que faz da Rua Kingston no Paiol o laboratório de onde sai as várias coreografias apresentadas nas actividades culturais cidade adentro... no vídeo em baixo, a apresentação de um extracto do ensaio da coreografia referida aqui.

Gangs mindelenses

(entrada da rua que dá acesso à sede dos Black Enemy)

Quando se estuda o fenómeno da delinquência juvenil de uma cidade pequena, o ideal é procurar um dos sítios mais altos da cidade e observar a organização urbana. É um começo. Na Praia, foi só subir, fotografar e filmar a cidade em cima do Monte Babosa para dar conta da reprodução histórica sobrados/funcos. No Mindelo, o Alto Fortim não é um dos melhores postos de observação, mas ajuda a compreender alguns factores e perspectivar o futuro caso não se tome algumas medidas. Também, a geografia das duas cidades são diferentes. Enquanto na Praia temos vários centros e várias periferias (embora o Plateau continua a ser o centro simbólico), no Mindelo, persiste ainda, a nível geral, a clássica ideia da Escola de Chicago centro/periferia. Contudo, nas duas cidades, se notam descontinuidades nos padrões de ocupação espacial, ou seja, não existe uma segregação urbana nitidamente marcada e não há uma separação física entre os segmentos sociais, a não ser em alguns bairros mais recentes. Nota-se, em um mesmo bairro, espaços que abrigam extremos da pobreza e riqueza, onde se concentra uma enorme diversidade de modos de vida, discursos e práticas. Mas, a tendência é o crescimento das polaridades a nível da cidade e não somente a nível comunitário, em processo mais acelerado na Praia com o surgimento, por exemplo, de bairros como Jamaica e Inferno em contraste com os projectados Palmarejo Grande e Monte Babosa.

(tag da gang Black Enemy, mais os nomes dos membros)

A delinquência juvenil colectiva no Mindelo é uma realidade. Ainda não existem tantos grupos como na Praia, mas acredito que a tendência é crescer. Estão em várias zonas, normalmente um por cada zona, no entanto, penso que brevemente irão se multiplicar. Ao contrário dos thugs da Praia, que iniciaram à volta dos grupos gangsta rap (a segunda geração), na cidade pasa sabi, ao que parece, a actividade nada tem a ver com o rap e, praticamente, não há nenhuma relação gangs juvenil/grupos rap (não existe gangsta rap no Mindelo, pelos menos por agora), salvo o caso dos Black Enemy da Bela Vista, inicialmente um grupo rap. Diz-me Rokus que os novos grupos nem sequer sabem como tudo começou. Trata-se de pura moda e afirmação pessoal, social e territorial numa ilha parada, onde o desemprego juvenil atinge proporções abismais (nem é preciso os números do INE para ver-mos isso. Basta ir à periferia). Segundo alguns jovens, existia no bairro da Bela Vista a discoteca Flórida, onde o colectivo rap Bairro Turbulent eram os senhores da noite e havia por aí uns putos que queriam ser um dia rappers tal como os heróis do bairro. De vez em quando eram convidados a subir ao palco com os poetas da rua nas feiras do bairro e foi assim que nasceu o grupo baptizado Black Enemy. Há nove anos. Com o passar do tempo deixaram para trás a música e mergulhados na incerteza do futuro, conforme foram crescendo e ganhando confiança, lembravam-se de algumas humilhações sofridas no passado e as brigas com os jovens de outros bairros começaram a surgir. O grupo tinha presença e os outros jovens quiseram agrupar-se também. Surgiram assim os 100% Cova da Cova Monte Sossego, o gang Odju Burmedju da Pedrera, o gang Kebrada junta aos Black Enemy na Bela Vista, nasce o Pinctha Andor na Ilha da Madeira (maltas que inicialmente cantavam e dançavam kuduru nas actividades mindelenses. Albergaram ex-crianças de rua), o BBH no Fernando Pau/Ribeira de Craquinha, o gang Tchetchénia na Tchetchénia, RB na Ribeirinha e, ultimamente, gang Estrela em Chã de Alecrim e uns outros tantos mais pequenos e pouco conhecidos. Disseram-me que devido aos conflitos internos, alguns elementos estão a formar novos gangs dentro do mesmo bairro (aproximando da realidade praiense). Estes novos são os mais perigosos porque querem ter fama e ser respeitados como os outros. Dizer que o grupo mandou alguém para o hospital é uma forma de ganhar respeito no bairro e na cidade mergulhada no medo. A nível das rivalidades territoriais, alguns grupos fundem-se para combater outras coligações. No caso da zona da Cova, já foi avisado que os belavistenses não são ali bem vindos, independentemente de fazerem ou não parte dos Black Enemy ou BBH (mais uma aproximação à realidade praiense).

(cartaz promocional de homenagem a Alpina)

Sem dúvida que a situação explodiu com o assassinato de Tucim e de Alpina no final de 2009 e início de 2010. O que torna mais violenta estas mortes é que elas não são feitas com armas de fogo (como acontece na Praia). Alpina foi barbaramente assassinado à pedrada. Desfiguraram-lhe a cara que nem a mãe o reconheceu, diz-me Mirú. O grupo mostra-se chateado por não haver ainda condenações e amanhã prometem organizar uma homenagem em associação com os Bairro Turbulent. Dizem que não pretendem vingança, mas que estão prontos para responder às provocações dos grupos rivais. Como dizem, na Bela Vista mandamos nós. Actualmente, cinco Black Enemy's estão presos e os Bairro Turbulent têm dois rappers dentro (um por homicídio). Embora estes segundos sejam um grupo de rap e não de delinquentes, muitos dos seus membros já passaram pela cadeia, incluindo MC Seiva. É o caso mais próximo da realidade da Praia que encontrei, onde um grupo associado a actos delinquentes proporciona segurança ao grupo rap da comunidade. Reparei que muitos desses grupos juvenis são os tradicionais grupos de "maltas" das esquinas dos bairros e que a falta de oportunidade, a desigualdade social, a exclusão social, entre outros factores, levou-os a enveredar por um caminho sinistro e quase sem volta. Ainda preservam os comportamentos do associativismo ou dos grupos informais juvenis, visto que, organizam várias vezes campanhas de limpeza e actividades recreativas nos seus bairros (fazem parte do grupo "mandinga" do bairro). Queixam-se das falsas notícias que saem sobre eles na comunicação social, imputando-os acções não perpetuados por eles, sobretudo no que tange ao tamanho dos jovens envolvidos (guardam pedaços de jornais, onde se destaca o semanário Já, como prova das barbaridades jornalísticas proferidas sobre eles. A notícia que me mostraram sobre o assalto militar de uma zona lembrou-me o célebre arrastão na praia de Carcavelos em Lisboa em 2005) e da polícia pela forma como aborda alguns jovens desses bairros. Para eles, a actuação violenta e discriminada da polícia nalguns casos, tem contribuído para o surgimento de novos grupos ou a associação de crianças e jovens sem perspectivas futuras aos grupos já existentes (tipo: n ka fazê nada i n levá, agora n ti ta fazê). Assumem-se como grupos de jovens que por não terem nada que fazer, passam a vida a confraternizar, a ver telenovelas e a andar à porrada quando são atacados. Obviamente, os grupos não são homogéneos e uns são mais violentos que outros, o que quer dizer que este post é baseado, por um lado, da conversa informal com os Black Enemy's durante algumas horas e, por outro, dos relatos dos rappers e de alguns residentes na periferia. Tal como na Praia, grupos como BBH possuem uma academia do crime (gangs de crianças) que conforme os skills podem ou não entrar mais tarde no gang titular e não podem ser associados aos grupos kasu body, embora, reconheçam que alguns indivíduos costumam cometer assaltos à mão armada. Os grupos possuem um código de honra que é respeitado por todos e estão bem estruturados, se bem que tendem a negar a existência de uma hierarquia (na verdade, nos grupos de thugs da Praia essa hierarquia é mais visível).

Sunday, May 6, 2012

Texto de Atsushi Ichinose sobre LCV


Remexendo nos meus documentos da época da faculdade encontrei um artigo escrito em 1997 pelo linguista brasileiro-nipónico Atsushi Ichinose na Revista Caboverdiana de Letras, Artes e Estudos, intitulado "Crioulo entre mito e realidade: casos de Cabo Verde e da Guiné-Bissau" (achado, por acaso, no armazém bibliográfico da Embaixada de Cabo Verde em Lisboa).

O autor parte de um debate entre Isaac Monteiro e Matt Hovens em torno do papel que o crioulo desempenha na sociedade guineense, para mostrar que enquanto na Guiné-Bissau se discute se a crioulização dessa sociedade corresponderia à desunidade nacional e até poderia ser uma ameaça à cultura tradicional do país, em Cabo Verde and ox2.org, ninguém põe em causa a importância do crioulo como meio de manter a identidade cultural, étnica e nacional.

Obviamente, essa diferença de atitude perante o crioulo, segundo o autor, deve-se por um lado, ao contexto histórico diferente em que essas duas línguas, formadas no final do século XV e início do século XVI, se desenvolveram e por outro, a existência de Manuel Veiga, principal impulsionador do ALUPEC e grande responsável pela mudança do estatuto social do crioulo de negativo para positivo.

Acaba por afirmar que o estatuto social do crioulo caboverdiano é elevado porque Cabo Verde tem Manual Veiga. Prublema e ki nem Manel Veiga riba pulero konsigui fazi ku ki LCV ofisializadu em paridadi ku purtuges...

No entretanto, no Norte de África...


(Na imagem: resposta policial aos últimos protestos. Foto Zohra Bensemra)

Friday, May 4, 2012

A Semana, Norah Jones e os boatos

Eu não sei se a Norah Jones vem ou não dar dois shows na terra maravilhosa, ainda mais acompanhada pela Mayra Abdrade. A verdade é que segundo o site oficial da cantora, no dia 09 ela estará num festival de Jazz em Roterdão e no dia 10 a Mayra estará em Shanghai na expo 2010. Se ela vier mesmo como diz o jornal de referência felizes ficarão os praienses e os salenses (os fãs e os que não quererão ficar fora do álbum). Quanto a mim, preferia um show dos Avenged Sevenfold (aqui) em pleno Estádio da Várzea.

(Na imagem: banda metal norte-americana Avenged Sevenfold)

Thursday, May 3, 2012

Mário Soares e a Independência de Cabo Verde

A propósito disto, tenho a dizer que muitos crioulos anti-costela-africana residentes nas ilhas e na diáspora (principalmente os pertencentes ao tal Movimento de Libertação de São Vicente) vão achar o mesmo. A reacção dos de lá foi assim e assim. Para mim, neo-colonialismo é a extensão contemporânea do colonialismo (nada tem a ver com a afirmação do avozinho) e caso não tivéssemos avançado para tomada da independência na época, provavelmente, hoje estaríamos a pensar nela. Quanto ao resto do se... o professor Kwaka deverá saber responder.

(Imagem pirateada na net)