A política no mundo contemporâneo é cada vez mais governada pela exigência da atracção. É pura encenação. Se pensarmos a sociedade cabo-verdiana como um espaço onde as relações sociais são estabelecidas a partir de relações de visibilidade, onde o que está em jogo é um intercâmbio de atenções, da vaidade, onde os actores configuram um espectáculo por meio das quais são examinadas as representações, e transportarmos essa ideia para o campo político cabo-verdiano, concluiremos que vivemos actualmente - pré-eleições - num momento cénico, em que os novos meios de comunicação social são a forma que os políticos encontraram para maximizar os lucros na economia da atenção. O aparecimento das redes sociais e a modernização da comunicação social tradicional do país abriu caminhos comunicativos e reprodutores da vaidade nunca antes visto, proporcionando momentos de êxtase e celebração de festas de culto da atractividade.
O facebook, por exemplo, entre outras redes sociais, é um novo instrumento de propaganda político-partidário e de desinformação, capaz de reproduzir o carneirismo partidário e a cegueira política (como disse certa vez Suzano Costa). Na verdade, mais do que alienar ou reproduzir o ethos político das ilhas, o que está em jogo é uma luta no campo da atenção, imitando assim a cultura quotidiana globalizada interiorizada por muitos cabo-verdianos. A atenção transformou-se no valor central da produção e o imperativo do êxito centra-se na capacidade de maximizá-lo. Perante isto, aqueles que controlam os meios de produção (os meios de comunicação social) adquirem vantagens, visto que os media são, nas sociedades contemporâneas, os principais catalisadores da atenção. São os fabricantes de reis da sociedade de informação e, por conseguinte, os principais produtores de celebridades.
Os políticos transformaram-se em celebridades, isto porque, a política é hoje governada pelas exigências da atracção e esta realidade é actualmente vivenciada em Cabo Verde. Já não se discute ideologias, ideias ou programas eleitorais, mas sim pessoas. Encena-se tudo. A colonização da política pelos meios de comunicação faz com que a política seja fundamentalmente representação o que obriga os políticos a terem capacidade de se encenar a si próprios ou causarem determinadas impressões que vão de encontro às expectativas da população. Eles têm de comportar-se de forma a obterem hegemonias na luta pela aprovação pública no enorme big brother que se transformou o espaço social. Vê-se na postura dos políticos, principalmente dos dois maiores partidos – PAICV e MPD –, que o combate político não é centrado nas estratégias destinadas a resolver os problemas dos cabo-verdianos, mas sim nas pessoas, nos líderes. Têm-se maior preocupação na representação pessoal de atitudes admiradas pelas populações. Optam apenas por encenar uma atitude emocional e vence aquele que melhor souber representá-la.
Depois do primeiro debate televisivo entre os quatro partidos, pela caixa de comentários dos jornais onlines, viu-se que José Maria Neves, pela postura agressiva com que brindou os espectadores, postura essa admirada por uma boa parte da população, marcou pontos, ao contrário de Carlos Veiga que pautou por um comportamento menos agressivo. Num mundo pautado por uma lógica dos meios de comunicação na personalização da política, os comportamentos e os temas só suscitam interesse quando as pessoas vêem neles assuntos pessoais. O pessoal passa a ser percebido como o comum resultante de um dispositivo de construção social, provocando o não interesse nos programas, mas sim nos rostos, na marca pessoal. Perante isto, as melhores ideias políticas são facilmente ultrapassadas pelo culto do homem e a escolha política transformada numa questão de gosto.
Adenda: Bem, no segundo debate, Veiga mostrou-se mais agressivo, animando assim os rabentolas e ponto em sentido alguns tambarinas. No entanto, convém se dizer que o expectáculo foi pobre em ideias e o resultado foi a expectacularização pública do apagão que, segundo nos diz a imprensa de referência, já causou uma suspensão.