Há cerca de 1 ano, mais coisa menos coisa, os jointers resolveram escrever sobre o ensino superior em Cabo Verde (isto depois da guerra Ordem dos Engenheiros vs. Uni-Piajet). Hoje sou eu a escrever sobre o ensino extensão secundário existente nas ilhas.
Alguém perguntou-me há dias se achava se existe uma cultura universitária no país e lembro de ter respondido que não porque, entre outras coisas, nem os próprios promotores da coisa sabem o significado disso (com todo o exagero possível). Quando penso nos vários institutos e universidades que existem neste país, vejo um liceu transformado num bordel. Passo a explicar: a cultura é liceal porque a maioria dos que estão à frente, ou tem uma vasta experiência nos liceus do país ou juntaram-se a pessoas com essa experiência, por isso não é de estranhar que o ensino superior seja gerido tal e qual um liceu (digamos um liceu distinto). Torna-se num bordel a partir do momento em que as contratações são feitas pelo facto de A ou B fazer parte deste ou daquele partido, é filho ou amigo desta ou daquela pessoa, deve um favor a este ou aquele indivíduo, e assim por diante. Ou seja, prostituições. Resultado: enfraquecimento do sistema que só por si começou frágil.
Vamos aos professores: os que querem fazer algo e tem alguma potencialidade são postos de lado porque são vistos como rebeldes. Ainda hoje, Paulo Monteiro Júnior perguntava-me se não é verdade que os intelectuais devem ser por natureza rebeldes. Não sei se o Daniel Medina concorda com isso, mas eu concordo. Se é um facto que muitos professores são licenciados e, para alguns, não tem qualquer preparação para serem docentes universitários, também é verdade que muitos senhores mestres e professores doutores deste país não passam de bluffs. Há aqueles que olham para a docência universitária como um extra laboral ou um status social, muitos estão desactualizados, e a comédia é que existe neste país professores universitários que nunca sequer puseram o pé numa universidade. Existe, ainda, aquela coisa do professor/investigador que muita gente do sector não percebeu o alcance.
Sempre defendi que alguém pode estudar na melhor universidade do mundo e caso não se aplicar a sério será um péssimo aluno e profissional e pelo contrário, estudar na pior e vir a ser um excelente profissional porque levou aquilo a sério. Por estas bandas, por mais que um aluno tente é muito complicado encontrar material, uma vez que as bibliotecas são o que são. Gasta-se milhares em cosmetiquices mas apetrechar uma biblioteca considera-se caro. Hoje temos internet respondem os sabe tudo. E chega?
É bom, também, dizer que se existe um problema de qualidade no nosso ensino superior é porque, casa que se constrói com base de barro arrisca-se a ruir, a fiscalização é inoperante e o problema maior se encontra na preparação dos alunos na secundária. Analisando muitos cursos dos vários institutos e universidade existentes nas ilhas, reparamos que os planos curriculares da maioria não presta e em alguns casos vende-se gato por lebre, mas o que mais me intriga é terem sido licenciados dessa forma pelo Ministério da Educação. Ou quem é responsável pelo licenciamento da coisa não percebe nada daquilo ou então há muitos favores a pagar.
Apesar desse desabafo pessimista (porque se as coisas não melhorarem rapidamente Cabral irá arrepender-se no inferno ou seja lá onde estiver em ter dito que as crianças seriam as flores da revolução) acredito que ainda é tempo de mudar o rumo das coisas e salvar o país de um futuro muito negro.
P.S. A universidade é um espaço onde reina a liberdade e a democracia e um espaço onde forma-se espíritos críticos e não carneiros doutrinados incapazes de teorizar, visto que a maioria dos seus pastores não passam de castrados intelectuais ou como diria Varela com prisão de mente.