Durante décadas os cabo-verdianos foram vistos como aquele povo lutador, inteligente, resistente e humilde. No estrangeiro somos assim vistos... mas temo que esta visão do estrangeiro sobre o cabo-verdiano venha mudar. Tudo por causa do complexo de inferioridade de muitos dos nossos chefes e intelectuais. Tenho reparado (e a constatação não é só minha) que há uma tendência em privilegiar jovens imigrantes europeus (que o jovem imigrante africano é considerado um mau imigrante - delinquente) em detrimento ao jovem quadro cabo-verdiano. É a mentalidade colonizada do que vem da Europa é melhor (ainda mais se tem uma pela clarinha e for da metrópole) que o nacional africano. Formam-se nas mesmas universidades, com os mesmos professores, porém, na hora de escolher, o complexo de ser um preto especial fala mais alto. Engana-se quem pensa que a pior forma de violência colonial é a física. Muitos deles estão aqui porque o mercado dos seus países estão saturados (nós fomos para lá porque nem sequer mercado tínhamos). Contudo, muitos deles sabem que se tivessem entrado no mercado da terra, acabavam por ser expurgados. Aqui, na república das bananas, o pior do norte é sempre superior ao melhor nativo. Comte afirmou isso na sua lei dos três estados há cerca de dois séculos. As nossas mentes funcionalistas engoliram a coisa... depois acham-se intelectuais. Intelectuais castrados diria eu. A imagem que estamos a passar é que não passamos de uns burros que não conseguem sobreviver sem o europeu. A colonização simbólica tem esse efeito. Mais-valia o caralho... hoje em dia, até na apresentação da nossa empresa ou numa reunião mais sofisticada, mandamos o clarinho. Já temos vergonha de enviar o mulatinho. Gabriel Fernandes, no livro Em Busca da Nação, disse que os claridosos na tentativa de afastar o cabo-verdiano do continente africano e aproximá-lo da Europa, mobilizavam estratégias de desdiferenciação vertical, querendo com isso mostrar à metrópole que havia similaridades político-social entre a elite das ilhas e os metropolitanos portugueses. Transportando essa realidade aos nossos dias, diria que a nossa elite intelectual, empresarial e política está a reproduzir uma diferenciação vertical. Ou seja, a fazer o inverso. Continuem assim...
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