Muita gente não gosta de ouvir isto, mas a verdade é que a segunda geração dos thugs praienses nasceram à volta dos grupos gangsta rap da zona ou ao ritmo dos beats importados dos States. Portanto, tal como na terra do Tio Sam, a expressão thug life consolida-se à volta desses grupos que pouco a pouco foram surgindo nos bairros periféricos da capital. Com isso quero dizer que as primeiras cenas de violência envolvendo grupos thugs no início dos anos dois mil deveram-se a bifes individuais e territoriais entre MC's e constata-se que muitos nomes desses grupos eram o dos grupos de gangsta rap da zona. Normalmente, serviam de guarda costas desses rappers. Para além das letras dessas musicas conterem palavras provocativas e estigmatizantes para com grupos e bairros rivais, elas continham também uma forte mensagem político-social, denunciando a corrupção, a violência policial, a desigualdade social, a hipocrisia social, a pobreza e a apatia social. Ela funcionava como um grito de revolta e uma chamada de atenção à sociedade para a situação vivida nos funcos contemporâneos da cidade. O código de sobrevivência de rua era reproduzido nas músicas fazendo com que os mais novos o interiorizasse e tomá-lo como a única regra possível para sobreviver nas ruas.
Mais tarde, começaram a aparecer novos grupos e muitos antigos gangsta rappers trocaram, nas palavras deles, o gun pelo micro, tentando assim fazer com que as instituições locais e centrais, público e privado, os ouvissem. A consciencialização da não violência começou a surgir na tentativa de evitar que os mais novos seguissem o caminho da delinquência, contudo, nos bairros, a violência simbólica continuava. GPI é um desses grupos, que mais do que um grupo rap, é um movimento de consciencialização político-social, africanista, anti-sistema, tribal, que embora não acreditando na violência como factor de mudança social, entendem fazer uso dela quando necessária for, como reacção a uma situação injusta. Muitos grupos thugs (incluindo os Buraca) usam a violência como defesa a uma situação que não controlam. Não confundir os GPI com um grupo thug, mas sim como uma ponte entre esses grupos (em redefinição) e a sociedade, se bem que, sentem-se tão excluídos e marginalizados como eles. É assim em Castelão, como é na Achada Grande Frente, Achada Grande Trás, Tira Chapéu, Achadinha, Várzea, Lém Ferreira, Vila Nova, Ponta D'Água, Safende, Fontom, Bairro Lata, Cobom, Di Nôs, Brasil, Jamaica, Inferno (actual Alto da Graça), Tira Chapéu, Meio da Achada, Bela Vista, Achadinha Pires, Monte Vermelho, Achada Mato, Eugénio Lima, Calabaceira, Pensamento, Paiol, Coqueiro, Moinho, Lém Cachoro... todos têm os seus GPI's e os seus Buracas. O estado social que os poderes centrais e locais ignoraram, ignoram e irão continuar a ignorar... bem, estamos nas vésperas das eleições.
No comments:
Post a Comment