Em 2006, quando comecei a aventura de investigar o movimento thugétnico (os tais terroristas urbanos), apesar de ter adquirido algum conhecimento nos gangs juvenis em Lisboa, longe estava eu de saber o espantoso mundo que iria encontrar nesta Praia underground nascida nos finais dos anos 90. Para qualquer pseudo-investigador o mundo dos thugs é sinistro, sem causa, onde apenas existe violência e um sentimento de nôs ki sta manda. As coisas não são bem assim.
A primeira parte da investigação ficou concluído nos finais de 2009, mas, com os acontecimentos violentos surgidos na capital em Dezembro e Janeiro último, houve necessidade de começar uma nova jornada etnográfica (digamos a segunda parte da coisa). No final de 2009, estava claro que o fenómeno thug estava em processo de redefinição - o modus operandi dos grupos tinham mudado. A delinquência juvenil existe - está para durar - mas é um erro afirmar que o tipo de associação juvenil delinquente que hoje encontramos nas streets da capital têm as mesmas características dos grupos thugs originais (nos finais dos anos 90 - repatriados, e nos primeiros anos do ano 2000 - a interiorização desse estilo de vida por jovens desafiliados nos funcos da capital). Se privilegiarmos apenas a palavra (bandido), ya são bandidos/delinquentes, mas se analisarmos a filosofia por detrás do fenómeno veremos que o que existe hoje é uma outra coisa qualquer. Alguns identificam-se como sendo thugs, mas um olhar microscópico mostra-nos que a esmagadora maioria não passa de grupos Kasu Bodi transvestido a thug. Como disse, o modus operandi é outro e a ideologia é outra - mais niilista.
A partir de hoje partilharei com os 20 e tal gajos que por cá passam diariamente (a maioria à espreita de qualquer coisa para atacar com ignorância) alguns vídeos, basicamente clips de rap thugs (e não thugs) amadores (bastante subversivo - também não passa no CV Mix), editado por suburbanos - esse bando de rapazes violentos e burros, que não fazem nada senão xinta ta kosa obu como já ouvi dizer por aí. Não importa se sabem cantar ou não... o importante é mostrar a algumas mentes obtusas e a uma facção da burguesia folclórica, que se preocupam apenas em dar mamadas para subir ao poleiro, a capacidade criativa desse povo (também não têm apoio do ministério da cultura). O objectivo é balear-vos com as mensagens subversivas das ruas periféricas (longe de mim tentar fazê-los passar por santos. Revolucionários, talvez).
Não sei se os dois jovens da Achada Trás, ex-thugs do grupo The Wolf Gang, chegaram a convencer Zema - no escritório climatizado da Várzea - e apresentar as suas reivindicações no tal encontro com os thugs (ainda estou à espera do memorandum da reunião). Pena não foram convidados, também, no passado, para o famoso encontro com os jovens da capital - ah, essa era para jovens normais. No entanto, desconfio que a madrinha da mais nova associação juvenil legalizada pelo sistema aconselhou-os a não apertar demasiado com o premier - por sugestão da equipa do mesmo, suponho...
O vídeo em baixo relata o dia-a-dia dos jovens num dos funcos da capital (Castelão). Recorrem constantemente àquilo que Sykes e Matza chamam de técnicas de neutralizações das normas convencionais para justificar os seus actos, não obstante as verdades ditas.
Rappers: Nuts Ft. Rappa-G & Dapox
Música: kronikaz di Street
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