Thursday, May 12, 2011

Política, comunicação social e o culto da imbecilidade

A política no mundo contemporâneo é cada vez mais governada pela exigência da atracção. É pura encenação. Se pensarmos a sociedade cabo-verdiana como um espaço onde as relações sociais são estabelecidas a partir de relações de visibilidade, onde o que está em jogo é um intercâmbio de atenções, da vaidade, onde os actores configuram um espectáculo por meio das quais são examinadas as representações, e transportarmos essa ideia para o campo político cabo-verdiano, concluiremos que vivemos actualmente - pré-eleições - num momento cénico, em que os novos meios de comunicação social são a forma que os políticos encontraram para maximizar os lucros na economia da atenção. O aparecimento das redes sociais e a modernização da comunicação social tradicional do país abriu caminhos comunicativos e reprodutores da vaidade nunca antes visto, proporcionando momentos de êxtase e celebração de festas de culto da atractividade.

O facebook, por exemplo, entre outras redes sociais, é um novo instrumento de propaganda político-partidário e de desinformação, capaz de reproduzir o carneirismo partidário e a cegueira política (como disse certa vez Suzano Costa). Na verdade, mais do que alienar ou reproduzir o ethos político das ilhas, o que está em jogo é uma luta no campo da atenção, imitando assim a cultura quotidiana globalizada interiorizada por muitos cabo-verdianos. A atenção transformou-se no valor central da produção e o imperativo do êxito centra-se na capacidade de maximizá-lo. Perante isto, aqueles que controlam os meios de produção (os meios de comunicação social) adquirem vantagens, visto que os media são, nas sociedades contemporâneas, os principais catalisadores da atenção. São os fabricantes de reis da sociedade de informação e, por conseguinte, os principais produtores de celebridades.

Os políticos transformaram-se em celebridades, isto porque, a política é hoje governada pelas exigências da atracção e esta realidade é actualmente vivenciada em Cabo Verde. Já não se discute ideologias, ideias ou programas eleitorais, mas sim pessoas. Encena-se tudo. A colonização da política pelos meios de comunicação faz com que a política seja fundamentalmente representação o que obriga os políticos a terem capacidade de se encenar a si próprios ou causarem determinadas impressões que vão de encontro às expectativas da população. Eles têm de comportar-se de forma a obterem hegemonias na luta pela aprovação pública no enorme big brother que se transformou o espaço social. Vê-se na postura dos políticos, principalmente dos dois maiores partidos – PAICV e MPD –, que o combate político não é centrado nas estratégias destinadas a resolver os problemas dos cabo-verdianos, mas sim nas pessoas, nos líderes. Têm-se maior preocupação na representação pessoal de atitudes admiradas pelas populações. Optam apenas por encenar uma atitude emocional e vence aquele que melhor souber representá-la.

Depois do primeiro debate televisivo entre os quatro partidos, pela caixa de comentários dos jornais onlines, viu-se que José Maria Neves, pela postura agressiva com que brindou os espectadores, postura essa admirada por uma boa parte da população, marcou pontos, ao contrário de Carlos Veiga que pautou por um comportamento menos agressivo. Num mundo pautado por uma lógica dos meios de comunicação na personalização da política, os comportamentos e os temas só suscitam interesse quando as pessoas vêem neles assuntos pessoais. O pessoal passa a ser percebido como o comum resultante de um dispositivo de construção social, provocando o não interesse nos programas, mas sim nos rostos, na marca pessoal. Perante isto, as melhores ideias políticas são facilmente ultrapassadas pelo culto do homem e a escolha política transformada numa questão de gosto.

Adenda: Bem, no segundo debate, Veiga mostrou-se mais agressivo, animando assim os rabentolas e ponto em sentido alguns tambarinas. No entanto, convém se dizer que o expectáculo foi pobre em ideias e o resultado foi a expectacularização pública do apagão que, segundo nos diz a imprensa de referência, já causou uma suspensão.

Wednesday, May 11, 2011

Imbecilidade Ministerial

O que leva o actual Ministro da Educação, ex-Delegado da Educação do Concelho da Praia (anos 1990), ex-Secretário de Estado da Educação (anos 2000) às TV's nacionais proclamar vezes sem conta que a educação em Cabo Verde tem muita qualidade? Será devido a supostas afirmações de um dos Reitores num programa da praça moderado pela menina Almeida? Talvez o tal de Octávio Tavares acredita que de facto existe muita qualidade nas escolas básicas e secundárias (do ensino superior prefiro não comentar) das ilhas.

O homem, xatiadu si, afirmou numa sala repleta de professores, num discurso inflamado lembrando Filú, que quem não tem qualidade são os tais analistas (os Reitores penso eu). Se soubesse ele a figura que alguns dos tais professores competentes fazem nas escolas extensão secundárias ficava calado. A imbecilidade pega...

Da tal Ministra substituta do Veiga e do Ensino Superior alguém sabe o paradeiro? Talvez esteja na Imbecilândia...

(Na imagem: momento Cristian. Foto de autor desconhecido)

My Playlist (39) Deftones

Ver vídeo 7 Words aqui. Assistir ao vivo My Own Summer (Shove It), Lotion e Head Up! Ft. Max Cavalera aqui, aqui e aqui. Info aqui.

Monday, May 9, 2011

Três observações... mais um bónus

1 - Impressão minha ou há muito mais sacos de cimentos a circular esta época? Principalmente no interior de Santiago.
2 - Quer-me parecer que o MPD está muito mais forte na campanha. Pelo menos no olhómetro e ouvidómetro.
3 - As estradas terceira geração de Neves, principalmente no troço que liga Orgãos/Assomada estão-se a afundar. Se calhar é mais uma sabotagem do MPD.
Bónus - Só vi e ouvi a nova da chuva em Santiago em Janeiro quando o Papa João Paulo II visitou as ilhas em 90. Tinha sido um milagre dissera os mais crentes.

    Saturday, May 7, 2011

    Mecenato Social

    Blá, blá, blá... enquanto houver compadrios, bairrismo político, prostituições várias, incentivo à guetização da classe dominante, pouca transparência nos concursos públicos, politiquices, políticas assistencialistas, etc., etc., e etc., as desigualdades sociais nunca irão parar de aumentar.

    Contudo, congratulo-me com essa iniciativa desde que haja continuidade e seja suportada por outros tipos de políticas públicas/sociais mais eficazes e sustentáveis, em que a pessoa humana seja tratada como possuidor de talento e não um mero fantoche social .

    (Na imagem: guetização da classe dominante no Brasil)

    South Africa 2010

    No mês do futebol fica até mal não escrever sobre esse desporto de cavalheiros jogado por hoolligans (frase roubada aos brancos sul-africanos fãs do springboks durante os anos do apartheid).

    O apartheid hoje é outro. Os negros e os imigrantes africanos encarcerados nos bairros de lata (campos de concentração da modernidade recente) por uns tantos negros ávidos pelo poder (antigos resistentes contra a injustiça social e racial), num país cada vez mais desigual e violento.

    Nestas coisas do mundial sempre apoiei as equipas supostamente mais fracas, menos quando joga a Inglaterra, a Argentina de Messi e umas tantas equipas africanas. Gostei dos EUA e tenho para mim que este ano o vencedor será um outsider.

    Ando a gostar dos comentários do pessoal da TCV, menos quando o comentador de serviço confunde alegria com desespero entre outras coisas. Ouvi dizer que a Record CV anda a transmitir os jogos com licença da FIFA e fico confuso quando ouço o Gil qualquer coisa dizer que a TCV é a televisão oficial.

    Por cá, o Boavista FC conquista a Taça de Cabo Verde e no Estádio da Várzea poucas dezenas de adeptos (efeito copa do mundo) e uma entrega das taças muito cinzenta, utilizando as palavras do treinador da equipa das camisas esquisitas.

    Alienação geral...


    Gabriel O Pensador: Tem Alguém Aí?

    Friday, May 6, 2011

    Na terra do faz de conta...

    Gostaria que o Zema's escrevesse no facebook sobre a jovem que não obstante ter terminado o 12º ano com nota elevadíssima, por não ter um apelido pomposo ou um cartão amarelo, para sobreviver, emprega-se como mulher a dias... é o país dos licenciados (desculpem, pós-graduados), mestres e doutores (desculpem, professores doutores).

    Da mesma forma, gostaria que o Ulisses explicasse algures o que irá ser da senhora vendedeira que mal consegue pagar uma barraca no Sucupira, quando deslocalizar o mesmo para o super luxuoso Centro Comercial Mercado da Praia.

    Até que ponto não estamos a nos iludir com discursos pomposos sobre oportunidades para os jovens e em nome da vontade de um grupo específico não estamos a reproduzir a pobreza e a desigualdade social no país?

    Já agora, à equipa do Vladmir, gostaria que tirassem também fotos aos buracos nas estradas de terceira geração (segundo o clero) construídas pelo governo e os colocassem no seu recanto "vomital"...

    No Expresso das Ilhas

    "Temos uma democracia ainda frágil. Que ainda nos dá essas realidades, que não deviam acontecer. A compra de votos é real, o recenseamento não funciona. Ou seja, temos muito para crescer. E não podemos continuar a fazer campanhas nesta base de distribuição de camisolas, onde se gastam fortunas, num país que não tem recursos para isso. Vi muitas coisas tristes nesta campanha. Cheguei a receber cartas de pedidos de apoio para a construção de casa, em plena campanha, e outros pedidos dos mais absurdos, chega quase a haver chantagem sobre os políticos, e isso é fruto ainda de uma certa imaturidade. As pessoas ainda não compreendem que o voto é o seu contributo, a sua responsabilização individual sobre o que querem para o país. Ainda estamos muito longe, ainda temos uma democracia frágil, onde falta sentido de cidadania, a compreensão que todos temos valor e todos temos de contribuir para o país. Que devemos isso aos nossos filhos, aos nossos netos, ao futuro que queremos para Cabo Verde."

    Deputada Janine Lélis (MPD)

    Wednesday, May 4, 2011

    Para ler

    Daniel Estulin uma vez mais. A sua anterior obra desiludiu-me um pouco, mas este surpreendeu-me. Muito coerente no discurso e sem contradições. Partindo do suposto assassinato de Litvinenko, da tentativa bilderbergiana de sugar a riqueza russa, passando pelo apoio ocidental ao grupo criminoso kosovar liderado por Hashim Thaçi, ao submundo do narcotráfico e dos negócios de ouro e diamante, aos talibãs, Al Qaeda e Bin Laden, chegando ao traficante de armas mais procurado do mundo Victor Bout, tenta mostrar a tentativa desse restrito grupo dominar o mundo através de um sistema fascista, transformando o planeta azul numa espécie de Mundo Companhia Lda - A Nova Ordem Mundial.

    Tuesday, May 3, 2011

    Viva Camarada Zema's, Viva Partido Amarelo e Viva Cabo Verde

    Era disto que a madame Traoré falava na sala de conferências do ISCTE semana passada (comentário aqui). Concordo que Cabo Verde seja um case study, mas por causa de outras coisas. O tal Luis Filipe e o senhor Tolentino podem até estar orgulhoso com os resultados da ONU, contudo, eu que nem sou um intelectual sei que a realidade é bem diferente. Não vou entrar numa de teorias de conspiração e fazer da FMI, BM, OMC ou OIT diabos a abater (a ONU é apenas uma sigla e quanto a isso acho que ninguém tem dúvidas). No entanto, devo dizer que os políticos cabo-verdianos, nomeadamente os amarelos, continuam a gozar com a cara dos cidadãos que continuam numa apatia que chega a impressionar. O Veiga e os verdes nem oposição em condições conseguem fazer (penso que este post do Dono é elucidativo - em vez de coisas concretas pega em patetices. Ya, o governo verde fez grandes investimentos no Maio nos anos 90).

    O desemprego conseguiram descer com a nova metodologia. A realidade é outra. Todos os anos cerca de 700 e tal novos quadros pedem equivalência (de 2000 para cá) e de certeza não se enquadram. Nem falo dos que formam cá e os que nem sequer formam. Pois, levava-nos ao não emprego e a nova exploração dos recém licenciados transvertido de estágios profissionais. É a política pública possível. A pobreza que em 2000 era de 37%, por um milagre à Santo Neves foi reduzida para 26% em 2007 e 24% em 2009. A dona Martins disse há uns meses no Parlamento que brevemente (entende-se antes de Janeiro de 2011) mais 10% desaparecerão (ando à procura de uma vala comum). Na prática, a pobreza urbana é astronómica e no meio rural não houve melhorias. Da fome nem falo, mas sei que que há muitos people's residentes em sobrados que comem apenas uma vez por dia e uns tantos outros que recebem acima de 100 contos e poucos dias depois nem 10 mil têm. Continuam na aparência que vão longe. A educação de facto é de primeiro mundo (já agora solicito à ONU que nos mude da designação PDM para PD). Do ensino superior nem falo.

    A promoção da igualdade do género não tenho dados para dizer que não cumprimos. A percepção é que há muitas Directoras em Cabo Verde. Também as mulheres estão em maior número. Pena tenho é dos companheiros que levam em casa. É uma realidade ignorada pelo instituto da Cláudia. A descida da taxa da mortalidade infantil e a melhoria da saúde materna é fruto das políticas sectoriais dos anos 80, reforçadas nos anos 90. No entanto, é bom lembrar que Deus é cabo-verdiano porque o que passa nas maternidades crioulas, principalmente a da capital, aposto que a senhora Lantz nem desconfia. Quanto ao combate à SIDA e outras doenças reforço a ideia que ainda bem que Deus requereu a nacionalidade crioula. Vê-se todos os dias que de facto a sustentabilidade ambiental está a evoluir. Praias e rochas desaparecidas, lixo queimado ao ar livre, política de betão e muitos atentados ambientais visíveis para os olhares bem menos atentos. Quanto ao último objectivo não tenho dúvidas que o cumprimos ou então não somos a Nação prostituta.

    Por tudo isto e muito mais os meus mais sinceros parabéns. Aqui estamos e haveremos de continuar até Deus chatear-se de vez e renunciar a nacionalidade como fez com Brasil, o país samba.

    Colectivo Matéria Bruta e a acção directa

    Depois da manif Anti-Nato no sábado e da greve geral de ontem, anarquistas "terroristas" ocupam casa em Lisboa. Comunicação da facção suicida aqui.

    Sunday, May 1, 2011

    JMN e os Thugs

    Acho muito bem que se realize fóruns do tipo, mas, o reverendo deveria começar a endurecer primeiro contra os criminosos de dentro para ter maior credibilidade cá fora. Foi a um bairro qualquer e apareceu no jornal da noite da TCV a dizer que, afinal, nem todos os thugs são criminosos. Foi a maior prova de que o homem não sabe do que fala e anda por aí, inconscientemente talvez, a estigmatizar e a criminalizar jovens desafiliados e/ou em processo de desafiliação. O que são para si thugs, caro premier? O Álvaro diz aqui que o ex-candidato a padre chama os bois pelos nomes e toma-os pelos chifres. Viu-se... diria mais que o JMN chama os bezerros pelos nomes e toma-os pelo rabo. Ele mal sabe destingir um grupo kasu bodi de um grupo thug... gostaria de o ver encontrar-se com os aspirantes a thugs e thugs que, antes de ontem à noite, andavam à coboiada em Lém Cachorro. No entanto, hoje lá foi para um encontro no auditório nacional ex-thugs de Achada Grande Traz, provisoriamente em paz após 5 anos de guerra, nas palavras de um deles (graças em parte ao bom trabalho da ACRIDES no terreno). Resta saber até quando, visto que, o problema é estruturante e não é apenas com pequenas formações e postos móveis que se resolve o problema. E depois?

    (Na imagem: capa do filme documental "La Vida Loca" de Christian Poveda sobre o gang salvadorenho MS18)