Monday, January 9, 2012

Contradições do Clero

Um colega antropólogo falava ontem comigo sobre a reacção da oposição a respeito da chamada da Polícia Militar (PM) às ruas. Apetece perguntar: afinal de contas existe oposição neste país? Sai o furacão Jorge Santos e entra o Dom Corleone Veiga mas a oposição continua a afundar não obstante a esperança do Dono.

Em vez de ir no lema costumeiro da cosmética e afins, o líder dos ventoínhas deveria pôr em causa a presença dos militares usando a cabecinha. Se é verdade que a constituição permite tal coisa, visto que existem para defender a nação contra ameaças externas e internas, também, é verdade que não estão preparados para tal (falo da segurança interna), isto porque, falta-lhes formação específica.

Ponhamos a coisa desta forma: imaginem que, tal como já aconteceu com efectivos da PN, um PM mate alguém. Vai responder onde? No tribunal civil? Creio que não pode. Não pode porque ele é um militar e os militares não regem por normas jurídicas civis. Existe um tribunal militar em Cabo Verde? Não sei. Existe uma prisão militar em Cabo Verde? Não.

Se existe medo da população em relação aos PM's é porque elas sabem que estes saem sempre impunes. Será que o Clero sabe dos antigos PM's amigos do movimento thugétnico que desviaram AKM's para o Bairro da Achada Grande Frente?

Pôr a PM na rua é a segunda contradição governamental (imitando os pecados capitais lançados em tempos pelo Dono), uma vez que, depois do reverendo ser desmentido pelos dados da PN no que toca aos números estatísticos da criminalidade, lançam essa medida dando a percepção que afinal a criminalidade existe e é preocupante (não confundir criminalidade juvenil com thugs). Ah pois é...

A verdade inconveniente

No país do mundo novo e das escolas topo de gama é lamentável que existam crianças no concelho de Santa Catarina (e noutras regiões) que quase todos os dias mendigam 20$00 para se deslocarem de "juvitinha" da escola para a casa.

(imagem de autor desconhecido)

Sunday, January 8, 2012

Estado da Nação (3)

O sector energético (e das águas). Mais do mesmo. Entramos em mais um Agosto e os problemas são os mesmos. A luz vai e volta na cidade capital do país PDM, membro da OMC, com parceria especial com a UE, etc e tal. No centro económico das ilhas paraíso. No Sal, capital do turismo, faltou água uns bons dias e em São Vicente a ELECTRA não consegue atender às necessidades da população.

Leio no semanário gratuito do MPD - JÁ - que a nacionalização apagou a ELECTRA. Caros mpdistas, quem apagou a ELECTRA foi a sua privatização nos anos 90 (porque mal feita). Os apagões dos anos 2000 foram resultados da política energética do partido verde. O PAICV não soube (e continua a não saber) como reverter essa situação. É essa a sua culpa...

(Imagem sacada da net)

Leituras...

As notícias sobre a guerra urbana na cidade do Rio de Janeiro fez-me lembrar este livro da Tatiana Moura, sobre as novas formas de conflito armado que ultrapassam as formas tradicionais de fazer guerra (artigo aqui). Importando a coisa para este país dito paraíso, uma sociedade cada vez mais partida e violenta, não é de discordar situações de género, caso os poderes institucionais continuarem a fazer fuga para frente. Um dia a população cansa e, não obstante, o discurso prosaico dos senhores da situação, a guerra há muito que começou nos funcos da capital... e não falo apenas da guerra simbólica.

Saturday, January 7, 2012

My Playlist (17) Ali Farka Touré

Ouvir Ali's Here aqui e info aqui.

Voltando à língua cabo-verdiana...

Tenho reparado (e volto a afirmar que a constatação não é só minha) que uma parte da nossa elite e snobs andam a obrigar os filhos a comunicarem em português. Nada contra. Cada um educa como bem entender. A intenção até não é má. Fazer com que no futuro não tenham problemas com a língua de Camões. O problema é que linguísticamente é um erro. Erro porque muitas vezes os miúdos acabam por reproduzir o português defeituoso dos pais e continua-se a ensinar o português nas escolas como se uma língua materna fosse. E não é. Sem falar dos casos em que nas escolas os professores mal conseguem dizer uma frase completa em português. Mas a minha preocupação nem é essa. O meu problema é mais sociológico. Problemas linguísticos deixo para os linguistas (embora Bourdieu afirmou, certa vez, que é errado pensar que a língua não é um campo sociológico). Ao se tentar resolver um futuro problema, está-se a empurrar as crianças para um outro problema - a exclusão escolar e social. O quotidiano nas ilhas faz-se em cabo-verdiano (crioulo) e isto os pais não controlam. Na escola e nos grupos de pares fala-se a língua materna. Quem for falar português é logo estigmatizado e excluído das brincadeiras. Acabam mesmo por sofrer bullying linguístico... e a culpa é do governo, do parlamento, da sociedade civil e dos próprios pais.

Para Ler


Rui Bebiano em A Terceira Noite, 15/01/11.

Pa kenha ki sta la pa tuga...

vídeo apresentação aqui

Sem vergonha (título emprestado ao tal gajo da extrema-direita portuguesa, dixit os tambarinas)

Devo dizer que concordo com esta crónica, mas recuso seguir esta nova moda "rabentola" da santificação dos seus. Quanto a isto, o Edy só veio mostrar que afinal os amarelos andaram a mentir ao país. Nada de original porque se bem se lembram, em 2001, o MPD de Gualberto tentou a mesma estratégia. O problema é que não haviam asfaltos, túneis, barragens, aeroportos, universidades e demais obras para enriquecer os de lá, que com ou sem qualidade, são reais... e dão jeito.

Friday, January 6, 2012

Kasubodismo de Estado

Na última edição do jornal A Nação a questão dos lobbies em Cabo Verde foi trazido a público, lembrando uma certa carta (bem extensa) que circulou pela net em tempos sobra a máfia dos terrenos no país da morabeza. Disseram que o MP investigou mas, até hoje, ninguém sabe sobre os resultados da tal investigação. Nessa época chegou às minhas mãos um projecto turístico promovido por uma empresa lobista da terra, mas, como as coisas estavam quentes recuaram, fazendo pensar que era bluff. Trouxeram uma nova equipa para a CV Investimentos mas o esquema fora montado desde há muito. Agora, leio isto. Não é que a máfia dos terrenos voltou em peso sem dar cavaco aos actuais donos (com nome no cartório) do terreno? Ouvi dizer que agora é o reverendo quem tem na mão a pasta dessas coisas. Só sei que lá vem guerra e os donos legítimos do terreno estão preparados...

A seguir cenas do próximo episódio... dependendo da resposta de quem de direito a coisa fede ou não.

(Na imagem: cena do filme Godfather)

2 notas "sabadais"

1 - Não sei se vai dar guerra ou não, mas num país onde a política televisiva (prática) é uma merda (como merda é umas outras tantas políticas) ganha, se calhar, quem falar mais bonito. O sub-chefe da Televisão Oficial do Governo (TOG), Álvaro Ludgero Andrade (não obstante a sua posição anti-pressão governativa na imprensa que em CV ainda é o que é), dá uma entrevista na semana passada no último jornal (depois da Record CV passar sucessivos avisos de que irá transmitir todos os jogos da mundial), onde diz e prova com documentos da FIFA que a televisão pública tem a exclusividade sobre os direitos televisivos do mesmo. Hoje, vejo na Record CV, a resposta do pessoal da IURD. A nossa transmissão está legalizada. Vais ter trabalho caro amigo Djena. Na minha ignorante opinião, uma televisão que passa filmes piratas, como é o caso da TCV (o recordista nacional dessa modalidade é a TIVER do senhor Perreira), não tem qualquer moral para "mandar vir" com a Record TV. O povo é quem sai a ganhar...

2 - O clero vem em peso à sua televisão e ao parlamento falar sobre boas práticas e mais coisas do tipo, mas tem o chapa amarela do governo ao serviço do partido. Exemplo disso é o carro da IEFP que anda a fazer biscates recolhendo miúdos nos bairros (aos fins-de-semana) para festividades partidárias do dia das crianças. Pois, como as mentes brilhantes do INE conseguiram descer o desemprego para 13%, num país onde não existe McDonalds, cinemas, grandes centros comercias e mais espaços da empregabilidade do tipo, o IEFP perdeu utilidade. E o povo é quem paga a orgia partidária. Para os senhores da nova abordagem, nada melhor do que imitar a Europa. É que às vezes esqueço-me que somos europeus e a nossa realidade (desenvolvimento) é puramente euro-americana...

A brincar a brincar... o manifesto MPCV

Na república “ki sta muda” é necessário objectivar um “mesti muda”, não com os amarelinhos ou os verdinhos (que o povo já está farto), mas sim com os verdadeiros patriotas revolucionários da nação, aqueles em que realmente vocês acreditam, um movimento subversivo e sincero liderado pelo Repórter X e CA limitada: o Movimento Punk Cabo Verde (M.P.C.V.). Um partido de gente jovem e “bonita” sem falsa modéstia; sem óculos Ray Ban espalhafatosos; avesso às fotos “dente cascôde” na Uhau! e festas na “cidade” do Palmarejo; acostumada a fumar charuto cubano produzido no quintal de Castro, o Fidel; fãs dos produtos nacionais (logo nacionalistas globalizados) tais como a famosa sandes d’ atum do Café Portugal do Mindelo, “toresma” dos Órgãos e o célebre “grogu fedi” dos Engenhos. Roqueiros convictos com cabelos em picos que se esticam ainda mais na hora do hino da “leberdade” odiado pelos estrelinhas e geração pós-mocidade socialista e amado pela geração “nem nem” (os putos e as pitas de hoje em dia); jovens subversivos marcados no corpo por tatuagens “yakuzanas” e “ganglianas” lembrando que a hora dos cotas foi-se, eis a vós o M.P.C.V, a horda vanguarda de gentes capazes de proporcionar a tão proclamada revolução dos cabelos em picos e guitarra eléctrica nas mãos…

Publicado aqui.

Portfolio (8)

(16 Janeiro 2011: rua 5 de Julho no Plateau)

Thursday, January 5, 2012

Tuesday, January 3, 2012

Sábios

Quando um gajo da inteligência do Casimiro de Pina aproveita o seu espaço no Liberal para perder tempo com um analfabeto funcional como eu (não dizendo nada de útil a não ser diarreias intelectuais) percebo porquê que o reverendo se encontra neste momento na pole position para 2011. Uma vez alguém me disse que o sábio crioulo é um ser tão pequeno que quando não encontra argumentos sustentáveis para dizer algo, busca pormenores insignificantes num oceano de palavras para tentar ridicularizar. Pois, na verdade a burrice é contagiosa. Vê-se. Devo achar Fidel um Deus. O garoto propaganda da outra escola deve ter lido algo do tipo num dos meus vómitos. Resta saber onde e quando. Diz que disse algo no passado, mas esquece de outras afirmações e defesas do passado que contradiz o que diz ter dito no passado. Sim, ler o código penal e as merdas jurídicas. Do teclado do mesmo gajo que deixa subjacente numa das suas crónicas que uma das razões por que devemos rejeitar a convivência com o islamismo é o facto deles defenderem a poligamia, que é crime em Cabo Verde. É sim, e os matxus crioulos estão todos no Hotel São Martinho. Civilizada... sei. É a tal ingenuidade de tentar analisar Cabo Verde como se de um país desenvolvido fosse (mas lá está, sonhamos ser sempre aquilo que não somos). É viver e aprender... com os Deuses... se calhar, devo começar a pensar em migrar... para Mosteiros.

Blogjoint: Como acabar com o desemprego?

Há perguntas dos quais respostas não os sei. Como também não consigo escrever sem criticar por mais construtivo que tento ser. É a minha sina. Destruir para construir. Teoria do caos. E afins... escrever de forma construtiva sobre o desemprego (divagando a ver se apanho a coisa).

Não querendo entrar na guerra dos números (mas já entrando), acho uma aberração os dados actuais do INE, como acho bizarro esta guerra entre os dois partidos dominantes, tendo as taxas do desemprego como arma de arremesso político. Como disse alguém algures, a verdade, independentemente dos números, é que o desemprego aumentou. Não vou nessa de desculpar com a crise mundial, porque, pelo que eu sei, o nosso arquipélago está em crise deste que os europeus ajudados pelos africanos resolveram o habitar (desculpem caros economistas, mas vocês andam a falar m***).

Que existe muito desemprego em Cabo Verde (mais do que os dados oficiais) é uma evidência e só os armados em ceguinhos não o quer ver. Pior do que o desemprego é o não emprego (o desemprego oculto). Aquele que não aparece nas estatísticas sobre o desemprego (nem com os modelos super modernizados dos países avançados). Aparecesse a discussão hoje seria outra.

A formação profissional é um caminho (seguido pelo clero) e, de facto, é indispensável ao bom desempenho de uma actividade profissional, portanto, necessário é investir mais e melhor na formação profissional dos jovens. Mas, não chega. Não chega porque traz a falsa profecia que isso resolve ou dilui o problema. O que acontece são efeitos perversos.

Correr atrás de profecias legitima outros. Traz contradições. Dizer, por um lado, que as dificuldades de inserção profissional por parte dos jovens devem à sua escassa formação profissional, quer-se dizer, por outro, que a escola (via geral) não prepara adequadamente os jovens para o mundo do trabalho. E lá se foi por pia abaixo o blá blá blá dos padrecos em relação à escola formal.

Resultado: os jovens (falo dos ex-thugs da Achada Grande Traz), depois da propalada formação profissional, não encontrando um trabalho que lhes dê o sustento ou caindo no não emprego (o mais provável) revoltam-se de novo contra o sistema. Não esquecer que o desemprego nas ilhas pasa sabi é estrutural, resultante da inexistência de um tecido industrial e empresarial forte.

Há, também, aquela coisa do programa estágio. Acho bem. Só que condena os jovens à exploração. Para mim, é a forma contemporânea de escravatura. No entanto, juntamente com a formação profissional é um caminho possível. Embora, acantonando uma parte dos jovens (lá está mais uma vez) nas malhas do não emprego.

Deixando de lado a inspiração no Machado Pais, tenho a dizer que, diminuir o desemprego em Cabo Verde, só é possível caso, se começar a despedir os senhores directores da coisa pública por incompetência (justa causa); acabar com a orgia dos contratados depois da reforma (nalguns sectores a sua manutenção é necessária); obrigar os sindicatos a resolver os problemas dos trabalhadores ao invés de preocuparem-se com a politiquice, evitando a desafiliação profissional de muitos; aumentar os salários fazendo com que não haja duplicações de funções público/privado (acabando com as pornografias profissionais); incentivar o empreendedorismo juvenil (tiro o chapéu ao executivo governamental pelo limite de dois anos de isenção dos impostos aos jovens empresários); acabar com as cunhas, padrinhagens, clientilismos e afins; e de momento não lembro de outras coisas... o achismo tem dessas coisas.

My Playlist (26) Charlie Brown Jr

Ver vídeos Confisco e Não Deixa o Mar te Engolir aqui e aqui. O Preço ao vivo aqui e info aqui.

Mindelo

(vista do Alto Fortim)

Mindelo é linda, quer dizer, Morada é linda. Lembra-me alguns centros portugueses. É limpa, organizada e agradável. Locais de convívio há-os aos montes. Os mendigos e os loucos fazem parte do cenário (se bem que os doentes mentais diminuíram, dizem devido ao espaço criado na Vila Nova para os albergar). Muitos turistas e emigrantes a passear pela cidade e a superlotar os bares e restaurantes. Questiono-me sobre a subsistência do sector de restauração em épocas outras, visto que, segundo o discurso de muitos nativos, dinheiro ka ten e a maioria desses espaços não são propriamente para a classe popular. Pela primeira vez na vida vi um serviço de transporte urbano organizado e a funcionar em Cabo Verde. Continuem assim...

(bairro da Bela Vista)

Saindo do centro, o cenário é bem diferente. Muita pobreza e desigualdade social. Bairros de lata, cidade cinzenta igualada à minha cidade capital, pontas de esquinas cheios de jovens e crianças ta kosa obu (o que explica em parte fenómenos emergentes). Do governo só ouvem falar na televisão da Praia (como diz uma das letras da malta do HipHopArt). Uma cidade parada foi o que encontrei. Soube do senhor Mirú (um sãovicentino militante da Nation of Islan com enorme influência na periferia, sobretudo no seio dos jovens - rappers e gangs juvenis emergentes) que um empresário e presidente de um clube de futebol deve quatro meses de salário a uma mãe de família. A mulher passou a ceia natalícia sem nada e os filhos só não procuraram o dito empresário para resolver a peleja porque ele responsabilizou-se a falar com o homem, disse-me Mirú. No entanto, o dito cujo não apareceu nem sequer deu cavaco. A senhora ganha seis mil escudos por mês, portanto, são apenas vinte e quatro mil escudos. Depois admira-se que a delinquência esteja a aumentar no Mindelo. Culpados os há e não são somente os jovens. O capitalismo gangster adoptado nos anos 1990 e consolidado nos anos 2000 dá nisso. Dizem alguns que Mindelo foi colonizada pelos "badios". Não concordo. Se formos sério, deixarmos o bairrismo de lado e analisarmos o peso regional no poleiro chamado Governo Lda - com as suas conglomerações públicas - veremos que a maioria dos cargos de chefia estão na mão dos "sanpadjudus". Ao invés de descentralizarem as políticas públicas para as suas ilhas, enchem o próprio bolso e os da clã. Poderiam muito bem fazer o inverso. Apostar na criação de emprego nas vilas e cidades periféricas em relação à Praia em vez de trazer os familiares e amigos para preencher postos e afins na cidade capital. De certeza, Mindelo sairia do marasmo em que se encontra. Aos escribas na emigração, venham sentir o pulsar do país, o seu quotidiano, antes de escreverem poemas sobre o asfalto e o betão reproduzidos pelas imagens da televisão controlada e estórias de jovens quadros no poleiro.

(em frente do Pont D'Água)

Foi o empreendedorismo científico exploratório que me levou desta vez ao Mindelo. Tentar perceber dois fenómenos urbanos: o movimento hip hop e a delinquência colectiva juvenil. O primeiro bem consolidado e o segundo em crescimento. E voltarei porque o tempo foi muito curto, embora enriquecedor. Desde já um obrigado ao colectivo HipHopArt, especialmente aos rappers Bacthart, Aloísio, DJ Letra, GG, o colectivo Bairro Turbelent, o beatmaker Rockus, a gang Black Enemy e todos aqueles cujos nomes esqueci, pelo passeio no Mindelo underground. Bom mesmo seria ver os investigadores (e seus aspirantes) da ilha mítica a explorarem esses fenómenos urbanos, uma vez que, estão em casa. Depois seria as trocas de informações e de interpretações...

P.S. A literatura claridosa criou o mito da cabo-verdianidade, longe de África, perto da Europa, somente atlânticos (do norte) ou macaronésia. A interiorização dessa ideia foi erradamente reproduzida por uma certa elite, auto-pensada superior, mas a base popular nunca foi na conversa e, actualmente, os jovens muito menos. Muito mais do que em Santiago, em São Vicente, a cultura afro-descendente é vivida fervorosamente no movimento rastafari, no carnaval, no fenómeno mandinga e nas demais manifestações culturais e populares. Um paradoxo... diz-me Bacthart.

Monday, January 2, 2012

Mentes Obtusas

Há uma figura social emergente no espaço social cabo-verdiano - os novos quadros - com algum peso, não obstante a mente obtusa de muito dos seus membros. É aquela gente que acha que porque estudou no estrangeiro é melhor do que outros. Adoram e exijam ser tratados por dr's., pensam que as pessoas valem por aquilo que vestem e pelo perfume que usam (pura idiotice de quem não tem nada na tola), vivem de empréstimos e expedientes e não passam de invejosos de meia tigela sedentos por um lugar ao sol a qualquer preço. Estão na função pública, nas empresas privadas, nos partidos, no governo, na oposição, nas universidades e institutos, enfim por todo o lado (fazendo fretes). Muitos não passam de energúmenos e oportunistas. Pior são os bordaskafé que os seguem. Um grupo de ignorantes. Eu que até gosto de ratos não consigo conviver com essas aberrações. No fundo tenho pena deles. Muitos tentam a todo o custo fugir dos funcos - esses são os piores - frequentando espaços, supostamente, chiques, mal sabendo eles que nos funcos é que se está bem. Nos sobrados tresanda hipocrisias, cinismos e invejas. Longe de ser um burguês folclórico sinto-me bem é nos funcos apesar de ter nascido, crescido e vivido num sobrado. Sinto-me bem no meio dos marginais, thugs e putas (é esta a imagem que se tem passado desses espaços). Pelo menos ali cada um sabe o que é. A água é limpa e faz-se pela vida conforme as margens deixadas. Quando não se deixa inventa-se. É este o retrato de uma parte da nossa juventude pós-estudos universitários, mas felizmente para o país, nem todos os jovens - novos quadros - correspondem a essa caracterização.

(Imagem de autor desconhecido)

Estado da Nação (2)

"Que época terrível esta, na qual idiotas conduzem cegos." (William Shakespeare)

Transportando tal afirmação para o nosso cantinho à beira mar seco diria o mesmo. José Maria Neves, o ministro-primeiro, na sua saga "idiotética" diz que vai transformar estas ilhas paradisíacas num país moderno e competitivo. E eu a pensar que já éramos isso... acreditando nos outros discursos do pinóquio amarelo.

Ultimamente, professores economistas e afins escreveram, escreveram e escreveram mil linhas sobre a nossa economia. Uns defendem que nunca estivemos tão bem e outros que encaminhamos para a situação grega. O partido verde arranja forma de enfeitar as ruas da capital com publicidade sobre a desgovernação do clero e o falhanço da sua política económica. É fraquinho, mas é democracia crioula no seu melhor...

O que esses iluminados ainda não disseram e o reverendo não sabe é aquilo que Alvin Toffler chamou no livro A Revolução da Riqueza de perigo da dessincronização (o choque das velocidades). Os países avançados, na construção das suas economias avançadas, debatem-se hoje, com variados ritmos de velocidade e, lá tal como cá, ainda não se percebeu que uma economia avançada precisa de uma sociedade avançada.

Nós por cá, nem uma coisa nem outra, mas o premier sendo um frentex man, sonha alto e, por isso, arrisca-se a cair bedju si. Caso um país acelere o seu avanço económico e deixe as suas principais instituições para trás, acabará por limitar o seu potencial de criação de riqueza. Quando, na ânsia de enganar tolos, se profetiza para rápido algo que só poderá ser alcançado num tempo longo mediante a construção de uma base sólida, está-se a vender gato por lebre. Quem o faz não passa de um mentiroso (ou idiota, se de facto acredita no que profetiza).

Em Cabo Verde, o governo é e sempre foi a principal força motriz das transformações sociais. Quando ouço o discurso gasto do reverendo sobre ele e a sua tropa terem transformado as ilhas, parto-me de tanto rir. Arranjem lá um papel de comédia ao homem num grupo teatral qualquer a estrear no mindelact deste ano. Meu caro, se hoje há algumas mudanças foi porque houve bons trabalhos anteriores (falo do PAIGC, do PAICV, do MPD e de todos aqueles que pensaram e escreveram sobre o país no passado).

Nas sociedades avançadas (que Neves sonha) é a empresa a força motriz das transformações sociais. Por cá, o governo não deixa isso acontecer. Ou seja, deixa quando o empresário é militante, familiar, amigo ou do governo. Aqueles que não consegue controlar, asfixia-as com impostos. Gere mal a coisa pública e mete sempre que pode a mão no bolso do contribuinte para investir em empresas obsoletas.

A segunda instituição social mais importante, a sociedade civil, só existe em teoria. Nenhuma sociedade desenvolve sem uma sociedade civil activa. A nossa só se activa com doses dupla de viagra, mesmo assim sofrendo de ejaculação precoce. Ou está controlada pelo sistema ou se auto-mutila. Fidelidades partidárias, prostituições e afins. Os sindicatos estão piores. Nascem numa legislatura para morrerem numa outra caso se mude de cor partidária.

De certeza JMN esqueceu da burocracia, incompetência administrativa e padrinhagens quando disse o que disse. Esses são os maiores bloqueadores do desenvolvimento de qualquer país, e na república amarela há-os aos montes. Bem, existe também o FMI, BM, OMC, as Nações que nos ilude com empréstimos e os investidores estrangeiros (do turismo principalmente). Não há almoços grátis... o pior deles todos é a justiça. A nossa instituição mais disfuncional, teimosa e obtusa.

"Cavalheiros, o tempo de vida é muito curto. Se vivemos, vivemos para arrancar as cabeças dos Reis." (William Shakespeare)

A verdade não dita

No país do mundo novo e das escolas topo de gama é lamentável que existam crianças no interior de Santiago (para não falar das outras regiões) que quase todos os dias mendigam 20$00 para se deslocarem de "juvitinha" da escola para a casa.

(imagem sacada da net)