Monday, January 2, 2012

Estado da Nação (2)

"Que época terrível esta, na qual idiotas conduzem cegos." (William Shakespeare)

Transportando tal afirmação para o nosso cantinho à beira mar seco diria o mesmo. José Maria Neves, o ministro-primeiro, na sua saga "idiotética" diz que vai transformar estas ilhas paradisíacas num país moderno e competitivo. E eu a pensar que já éramos isso... acreditando nos outros discursos do pinóquio amarelo.

Ultimamente, professores economistas e afins escreveram, escreveram e escreveram mil linhas sobre a nossa economia. Uns defendem que nunca estivemos tão bem e outros que encaminhamos para a situação grega. O partido verde arranja forma de enfeitar as ruas da capital com publicidade sobre a desgovernação do clero e o falhanço da sua política económica. É fraquinho, mas é democracia crioula no seu melhor...

O que esses iluminados ainda não disseram e o reverendo não sabe é aquilo que Alvin Toffler chamou no livro A Revolução da Riqueza de perigo da dessincronização (o choque das velocidades). Os países avançados, na construção das suas economias avançadas, debatem-se hoje, com variados ritmos de velocidade e, lá tal como cá, ainda não se percebeu que uma economia avançada precisa de uma sociedade avançada.

Nós por cá, nem uma coisa nem outra, mas o premier sendo um frentex man, sonha alto e, por isso, arrisca-se a cair bedju si. Caso um país acelere o seu avanço económico e deixe as suas principais instituições para trás, acabará por limitar o seu potencial de criação de riqueza. Quando, na ânsia de enganar tolos, se profetiza para rápido algo que só poderá ser alcançado num tempo longo mediante a construção de uma base sólida, está-se a vender gato por lebre. Quem o faz não passa de um mentiroso (ou idiota, se de facto acredita no que profetiza).

Em Cabo Verde, o governo é e sempre foi a principal força motriz das transformações sociais. Quando ouço o discurso gasto do reverendo sobre ele e a sua tropa terem transformado as ilhas, parto-me de tanto rir. Arranjem lá um papel de comédia ao homem num grupo teatral qualquer a estrear no mindelact deste ano. Meu caro, se hoje há algumas mudanças foi porque houve bons trabalhos anteriores (falo do PAIGC, do PAICV, do MPD e de todos aqueles que pensaram e escreveram sobre o país no passado).

Nas sociedades avançadas (que Neves sonha) é a empresa a força motriz das transformações sociais. Por cá, o governo não deixa isso acontecer. Ou seja, deixa quando o empresário é militante, familiar, amigo ou do governo. Aqueles que não consegue controlar, asfixia-as com impostos. Gere mal a coisa pública e mete sempre que pode a mão no bolso do contribuinte para investir em empresas obsoletas.

A segunda instituição social mais importante, a sociedade civil, só existe em teoria. Nenhuma sociedade desenvolve sem uma sociedade civil activa. A nossa só se activa com doses dupla de viagra, mesmo assim sofrendo de ejaculação precoce. Ou está controlada pelo sistema ou se auto-mutila. Fidelidades partidárias, prostituições e afins. Os sindicatos estão piores. Nascem numa legislatura para morrerem numa outra caso se mude de cor partidária.

De certeza JMN esqueceu da burocracia, incompetência administrativa e padrinhagens quando disse o que disse. Esses são os maiores bloqueadores do desenvolvimento de qualquer país, e na república amarela há-os aos montes. Bem, existe também o FMI, BM, OMC, as Nações que nos ilude com empréstimos e os investidores estrangeiros (do turismo principalmente). Não há almoços grátis... o pior deles todos é a justiça. A nossa instituição mais disfuncional, teimosa e obtusa.

"Cavalheiros, o tempo de vida é muito curto. Se vivemos, vivemos para arrancar as cabeças dos Reis." (William Shakespeare)

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