Wednesday, July 6, 2011

Racismo, xenofobia, morabeza e afins

Estou de acordo que a morabeza cabo-verdiana é pura retórica (só serve para alguns) e que existe racismo e xenofobia em Cabo Verde, mas não só contra os africanos. Também contra os brancos. Aliás, só quem nunca frequentou a mesa dos cabo-verdianos nas cantinas universitárias portuguesas desconhece a atitude racista cabo-verdiana (há quem diga uma reacção normal devido às traumas coloniais reproduzidas pelos mais velhos). Nos últimos anos, com a descoberta do el dorado quase verde, atitudes do tipo por parte dos estrangeiros para com os nativos crioulos tem sido usual e muitas vezes relatadas na comunicação social. O racismo é um defeito humano e ponto.

Devo dizer que considero este artigo um excelente exercício de reflexão, mas exagerado no palavreado (fruto, em parte, dos devaneios narcisista e da escola umbiguista reinante por estas paragens). O exemplo do casamento misto é infeliz porque é comummente sabido (e está patente em muitos trabalhos científicos) que a crioula desde sempre imaginou o branco como a ponte de fuga para uma vida, supostamente, de abundância. O imigrante africano não dá essa garantia, por razões ligadas à sua situação social. Vivemos hoje, felizmente ou infelizmente, numa sociedade mercantilizada. Com isso não quero dizer que não há casos de mulheres que rejeitam casar com negros africanos por estes serem negros do continente (há uma reprodução geracional nesse sentido em certas regiões do arquipélago). Convém não tratar esse indicador como basilar num contexto pobre e desigual como o nosso. No norte esse argumento poderá ter um peso significativo. Aqui não. Há indicadores mais concludentes.

No entanto, concordo com muita coisa dita e a pertinência do mesmo. O cabo-verdiano é racista e xenófobo. É, sempre foi e continuará a ser. Em Portugal, muitos emigrantes cabo-verdianos bem integrados e alguns estudantes universitários das ilhas são tão ou mais racistas e preconceituosos para com os emigrantes e seus descendentes das baracas que os portugueses. Falta apenas rematar que em Cabo Verde o negro africano endinheirado é logo considerado um traficante de droga e um branco na mesma situação social, mesmo tendo chegado à república atlântica de bolsos vazios, é considerado um empreendedor honesto. A isso chamo cegueira rácica.

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