Thursday, August 4, 2011

Hip hop (rap) di tera... breve história

Em quase todos os países (de que me lembro) em que o hip hop se tornou moda, constituindo-se como fenómeno urbano com características específicas de acordo com o contexto em questão, capaz de mobilizar grupos de jovens transformados em tribos urbanas (MC's, DJ's, B-Boys e Grafiters), a deslocação foi da periferia para o centro. Em Cabo Verde foi diferente. Ela deslocou-se do centro para a periferia, quer na Praia quer no Mindelo.

Nos anos de 1980, tanto a Praça Alexandre Albuquerque na Praia como a Praça Nova no Mindelo, foi invadida por alguns jovens, que ao som do rap dançavam o breack dance. Eram na sua maioria filhos de gente com algum capital, que nas suas viagens de Verão aos States apaixonaram por esta forma de libertação juvenil e de apropriação dos espaços públicos, trazendo-o para as ilhas e influenciando os que por cá ficavam. Logo, começou-se a cantarolar alguns poemas ao ritmo do beatbox e penso que todos na Praia lembram-se do mi nha nomi e Totoi n ta kanta rap n ta badja breack. Nasceu assim a geração dread.

Depois apareceu o Heavy H, nome emprestado ao rapper Heavy D, que numa mistura do rap e ritmos porto-riquenhos, levou esse novo estilo musical ao palco na primeira metade dos anos de 1990. Depois apareceram as Chipi Girls e uns tantos outros. Mais tarde os Niggaz Badio e um conjunto de grupos em vários bairros da capital. No Mindelo, ao contrário da Praia, em que as letras andavam à volta de coisas banais, grupos como os Black Company, IPV, Bairro Norte ou PTR cuspiam do micro um estilo rap mais consciente e mais maduro. Era o boom e o nascimento da geração yo. O tráfico era feito nos velhinhos k7's.

Na década de 2000, o rap chegou à periferia e os temas mudaram. Começou-se a cantar a pobreza, a desigualdade social, a falta de oportunidades, a corrupção do sistema, a pouca-vergonha dos políticos e o apelo à revolução. Cabral entrou nas letras e a identidade negra foi redescoberta. Na Praia, o estilo gangsta rap fez escola e tornou-se no hino dos grupos delinquentes auto e hetero-denominados thugs. No Mindelo, surgiram colectividades, territorializadas nos bairros periféricos, auto denominadas crew ou fame, conforme os gostos. Nasceu a geração thugs (os do micro). A geração da tecnologia, dos mixtapes digitais e dos vídeo clips. A geração mundu novu, como diria o nosso premier... desterritorializou-se, também, para o interior de Santiago e para algumas ilhas periféricas.

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