Thursday, August 4, 2011

Sendo assim, declaro-me fundamentalista

E lá voltamos à língua cabo-verdiana. Não porque amanhã é o dia mundial da língua materna, mas porque algo escrito neste blogue (que parece ter sido apagado antes de acabar de escrever este) na sequência de um comentário neste outro, lembrou-me que, ainda, há gentes de fora que se calhar guiadas por disposições ultramarinas, parece-me, continuam a olhar estas ilhas em geral e a nossa língua materna em particular, como algo a ser civilizada.

Não sei se sou fundamentalista por achar que justo seria oficializar a língua cabo-verdiana em paridade com o português ou porque, por influência de conversas tidas com vários linguistas, convencer-me que o ALUPEC (entendida como um simples alfabeto) serve muito bem de base para o ensino do crioulo.

Fundamentalista foram os senhores portugueses quando proibiram o cabo-verdiano de se expressar através da sua língua, dos seus usos e costumes. Tudo em nome de civilizar os povos bárbaros (existe pior dominação que a simbólica?). Mas, isso é passado e 1975 serviu como o ano de ruptura com esse mal (mas hoje temos a tal coisa do neo-colonialismo).

Sinceramente, me preocupa que haja pessoas, nacionais ou estrangeiros, que acham (achologia) sem qualquer suporte teórico ou empírico, que as dificuldades em se expressar o português por estas paragens deve-se pelo facto das crianças chegarem à escola sem qualquer noção dessa língua. Se calhar o melhor, seria proibirmos a população desta terra falar em crioulo no seu dia-a-dia, e em nome da lusofonia e do orgulho luso-tropicalismo, impor o português. Desta forma, quiçá, as crianças chegam à escola com boas noções do português.

Antigamente, falava-se correctamente o português (nalgumas camadas sociais - uma minoria) porque era obrigado expressar-se em português. Tempos outros, contextos outros. Hoje, vivemos na sociedade em que vivemos e devemos deixar de pensamentos saudosistas e pensar no futuro.

O problema de se falar e escrever mal o português nestas ilhas não é o crioulo, mas sim a forma como tal é ensinado nas nossas escolas. Português não é a nossa língua materna e por isso deve ser ensinada tal como o Inglês e o Francês, foi-nos ensinada (mas mais cedo). O que não querem ouvir, é linguistas afirmarem com bases empíricos que a introdução da língua materna no ensino das crianças facilita a aprendizagem do português, uma vez que cedo ela percebe as fronteiras que separam as duas línguas. Ou seja, acabam por saber falar melhor a outra língua.

Obviamente, pode haver quem opte por não aprender o português e aventurar-se no Inglês ou Francês. Algum mal nisso? Não é verdade que nas instâncias internacionais se privilegia estas línguas e não o português? Ah pois é...

Cabo Verde é um país pequeno e o português é falado por 260 milhões de cidadãos desse mundo, mas Cesária Évora entre outros artistas de renome internacional destacaram-se a expressar na sua língua materna e não no português. O português também é nosso mas devemos deixar de superiorizá-lo em relação à língua cabo-verdiana e isso passa pela sua oficialização em paridade com o português (coisa que por puro bairrismo e politiquice foi reprovada no Parlamento).

A lusofonia rende milhões de euros, todos os anos, a Portugal (e não apenas a Cabo Verde - não há cá almoços grátis), visto que, as ajudas entram por uma porta e saem logo por outra, devido às tais cooperações existentes com as construtoras portuguesas que papam as grandes obras infra-estruturais do país. Por terem maior capacidade técnica defendem alguns. Sei... mas estamos na globalização etc e tal...

Deixemos mas é dessas merdices paternalistas e de dominação (falo dos nacionais) e pensemos em coisas mais concretas como por exemplo, o que fazer para evitar que as primeiras professoras das nossas crianças (as mães) sejam espancadas pelos matxus desta terra.

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